terça-feira, 12 de abril de 2016
Petróleo toca máxima de 4 meses por expectativas sobre produção
Os preços do petróleo Brent tocaram máximas de quatro meses nesta segunda-feira (11), em um rali alimentado pela força nos mercados de commodities antes do encontro de países produtores em Doha, no próximo domingo, que visa congelar a produção de petróleo nos níveis atuais.
O mercado recebeu um pequeno impulso antes do fechamento com uma estimativa do governo dos Estados Unidos divulgada nesta segunda-feira, dizendo que a produção de petróleo não convencional do país deve cair pelo sétimo mês seguido em maio.
Após tocar o maior nível desde 7 de dezembro no início do dia, o Brent, referência global, encerrou em alta de US$ 0,89, ou 2,12%, a US$ 42,83 por barril. O petróleo nos EUA teve alta de US$ 0,64, ou 1,6%, a US$ 40,36 por barril.
"O mercado está nervoso antes desta reunião no domingo", disse John Kilduff, da Again Capital Management. "Há um grande risco no evento, porque se falhar como aconteceu com a última reunião da Opep, os preços vão sofrer".
Por que o preço do petróleo caiu tanto?
O preço do barril de petróleo atingiu mínimas em quase 12 anos, sendo negociado abaixo de US$ 30. A commodity encerrou 2015 com queda acumulada de 35% e iniciou 2016 ladeira abaixo, em meio a preocupações com o crescimento da China, com a crise diplomática entre Irã e Arábia Saudita e aumento de estoques de derivados nos Estados Unidos.
Mas essa queda não se reflete no preço dos combustíveis no Brasil: desde o início de novembro de 2014, a Petrobras reajustou os preços do diesel e da gasolina duas vezes, enquanto cotação do petróleo tipo Brent caiu mais de 50% no período.
Só neste começo de ano, as perdas já chegam a quase 20% diante de preocupações sobre a desaceleração da demanda chinesa e a ausência de contenção na produção e oferta global da commodity.
Entenda os efeitos no Brasil:
Média de preços do petróleo Brent, referência para o mercado global, está prevista em US$ 52,52 por barril este ano.
Por que o petróleo chegou a esse patamar?
Na quarta-feira (5), quando atingiu o menor nível desde junho de 2004, o que assustou o mercado foi um intenso e inesperado aumento nos estoques de gasolina dos Estados Unidos. Além disso, tensões geopolíticas após o anúncio de um teste de bomba de hidrogênio pela Coreia do Norte, aliadas a crescentes preocupações sobre a desaceleração da economia da China, contribuíram para o tombo dos preços.
Ao mesmo tempo, a perspectiva de demanda menor da Europa e da Ásia devido ao menor crescimento da economia no mundo também vem contribuindo para a queda.
Mas o preço do barril está caindo há 1 ano e meio. Em junho de 2014, o barril tipo Brent era negociado a US$ 115. Desde janeiro de 2015, a commodity vem sendo negociada abaixo de US$ 50, terminando o ano passado cotada a US$ 37 o barril.
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De que forma isso afeta a economia do Brasil?
A queda da cotação internacional diminui a arrecadação dos royalties sobre a produção, afetando a receita das prefeituras e estados produtores. Além disso, o Brasil continua dependente da importação de combustíveis para atender a demanda interna.
Desde 2011, o país voltou a consumir mais do que produz, perdendo a autossuficiência, comemorada pela Petrobras e pelo governo em 2006, quando a produção de petróleo equiparou-se ao volume de derivados consumidos à época no país.
Por que o preço da gasolina não cai no Brasil?
Com a queda do preço do petróleo, a Petrobras passou a vender os combustíveis acima dos valores de referência internacional. Segundo levantamento do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o preço da gasolina e do diesel nas refinarias nacionais estava, respectivamente, 14,4% e 47,1% acima do preço no Golfo do México no dia 4 de janeiro.
Diferentemente do mercado internacional, a Petrobras fixa a seu critério e do controlador (o governo brasileiro) os preços dos combustíveis, com o argumento de buscar evita transmitir volatilidade ao consumidor.
Mantendo os preços mais altos nas refinarias, a estatal busca compensar as perdas de receita com extração – e recupera perdas ao longo de 2014, quando manteve os preços abaixo dos internacionais, para evitar repasse à inflação.
Mas a Petrobras também sofre com a desvalorização do petróleo, porque diminui a rentabilidade dos projetos de exploração no pré-sal, que foram planejados levando em conta um preço mínimo do barril ao redor de US$ 45 para a produção poder ser considerada economicamente viável.
Por que há oferta em excesso de petróleo no mundo?
A oferta de petróleo vem aumentando por causa do crescimento da produção mundial, principalmente nas áreas de xisto (um substituto do petróleo) dos EUA – cuja produção tem se situado em níveis recordes de 30 anos – enquanto os grandes produtores vêm mantendo o nível de produção.
Outro fator de pressão nos preços deverá ser a volta do petróleo do Irã ao mercado, quando forem suspensas nos próximos meses as sanções contra o país, como resultado de um acordo nuclear alcançado em 2015.
Se há excesso, por que a produção não é reduzida?
Os países da Opep – grupo de 12 países produtores de petróleo, a maioria no Oriente Médio – se recusaram, em novembro de 2014, a reduzir seu teto de produção, independentemente do preço no mercado internacional. Um dos objetivos seria desestimular a produção do xisto nos EUA, cuja extração é mais cara.
Selo petrobras.
A Arábia Saudita, o maior exportador global de petróleo e membro da Opep, se recusa a reduzir a sua produção, disposta a tolerar um período prolongado de preços baixos para tirar do mercado outros produtores ou mesmo inviabilizar a exploração de rivais, como os norte-americanos.
Analistas consideram que as tensões entre a Arábia Saudita e o Irã tornam ainda mais difícil qualquer acordo na Opep com o objetivo de reduzir a oferta para recuperar os preços.
E qual a influência dos Estados Unidos e sua produção de xisto?
Os Estados Unidos tornaram-se no ano passado o maior produtor de petróleo do mundo, pela primeira vez desde 1975. O salto na produção nos últimos anos foi obtido graças ao óleo de xisto, cuja técnica não convencional envolve a injeção de água sob alta pressão e fraturação hidráulica em rochas localizadas entre 1.500 e 2.400 metros de profundidade.
A Opep culpa o grande aumento da produção de óleo de xisto pelos baixos preços do petróleo e tem mantido sua produção recorde, numa estratégia para impedir que o petróleo retirado do xisto conquiste mais mercados.
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Quais são os mais prejudicados pela queda dos preços?
Alguns países têm sofrido mais com a redução dos preços do petróleo, sobretudo Venezuela, Rússia e Irã, em razão do grande peso das exportações da commodity em suas economias.
As petrolíferas internacionais estão, mais uma vez, sendo forçadas a cortar gastos e empregos, vender ativos e atrasar projetos, já que a queda do preço do petróleo não sinaliza uma possível recuperação.
Quem sai ganhando?
Os países que lucram com a queda dos preços do petróleo são os grandes importadores e dependentes do petróleo, como Filipinas e China, que estão aproveitando os preços baixos para impulsionar o crescimento econômico ou reverter a desaceleração.
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A China está gastando bilhões de dólares para acumular reservas estratégicas, o que inclui até a construção de cavernas subterrâneas, para que seja possível atender até 90 dias de demanda de importação líquida no caso de uma interrupção, segundo a agência Reuters.
Quais os impactos na arrecadação da União, Estados e municípios?
O pagamento de royalties sobre produção de petróleo para a União, estados e municípios somou R$ 13,857 bilhões em 2015, segundo dados da ANP. A arrecadação representa uma queda de 25% na comparação com 2014, quando a receita total foi de R$ 18,530 bilhões.
A perda de receita com royalties contribuiu para o agravamento da crise financeiras de estados e municípios. Somente o estado do Rio de Janeiro deixou de ver entrar em seu caixa em 2015 uma quantia de cerca de R$ 900 milhões.
E a arrecadação com royalties só não foi ainda menor porque o real se desvalorizou muito em relação ao dólar e porque a Petrobras conseguiu aumentar a produção no ano passado.
Há perspectiva de alta dos preços?
O excesso de oferta deverá continuar limitando a recuperação dos preços em 2016. "O excesso de oferta continuará a empurrar para baixo os preços das commodities em 2016 nos mercados globais de petróleo e de gás natural no mercado norte-americano", disse o diretor-executivo da Moody's, Steven Wood.
"Mesmo se a produção de fora da Opep (EUA, Brasil e Canadá) cair em 0,6 milhão a 0,8 milhão de barris por dia em 2016, uma alta na produção do Irã e do Iraque continuará mantendo o mercado em situação de excesso de oferta em 2016", disse o diretor da Crisil Research, Rahul Prithiani.
O banco Morgan Stanley avalia que uma maior desvalorização do iuan pode levar os preços do petróleo em uma espiral para a faixa de US$ 20 a US$ 25 por barril, ampliando a queda de quase 15%.
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