Sem encomendas e com uma dívida
bilionária para pagar, a empresa Enseada Indústria Naval planeja explorar uma
nova atividade na área onde está construído o estaleiro Enseada Paraguaçu, no
interior da Bahia. A ideia da empresa, que tem como sócia as empreiteiras
envolvidas na Lava Jato Odebrecht, OAS e UTC, além da japonesa Kawasaki, é
aproveitar a estrutura montada para construir navios – que custou R$ 2,7
bilhões – e criar um polo industrial e logístico.
“Já temos o ativo físico, como o
cais, guindastes, acesso e um terminal de uso privado licenciado, além das
licenças ambientais de operação. Isso nos dá uma vantagem competitiva”, afirma
o presidente da empresa Fernando Barbosa. Segundo ele, esse terminal seria
usado para a importação de combustíveis, que hoje tem carência de
infraestrutura em todo o Brasil.
Na Bahia, diz o executivo, os grandes
terminais de líquidos são ocupados pela operação de refinaria e pelo polo
petroquímico. Apesar da infraestrutura construída no local, a empresa ainda
teria de investir em tancagem e ter autorização da Agência Nacional do Petróleo
(ANP). A nova empreitada, no entanto, depende de negociações em andamento com
um novo sócio, diz Barbosa. “A partir dessa definição, em um ano conseguiríamos
ser operacionais.”
O executivo destaca, entretanto, que
apesar da nova atividade, a estrutura do estaleiro será mantida, na esperança
de uma reversão do cenário atual. O Enseada Paraguaçu está construído numa
pequena parte do terreno de 1,6 milhão de metros quadrados. Desse total, 300 mil
m² é reserva ambiental e o restante está disponível para novas construções.
Sem contratos
A busca por uma nova atividade tem o
objetivo de rentabilizar o negócio da empresa, que teve um baque com a Operação
Lava Jato e a crise da Petrobrás. A Enseada tinha contratos de US$ 4,8 bilhões
com a Sete Brasil (empresa criada para intermediar a construção de sondas da
Petrobrás para exploração do pré-sal) para construir seis navios sondas até
2020. Mas a Sete Brasil entrou em recuperação judicial e deixou de pagar,
segundo Barbosa, R$ 1,7 bilhão para a empresa de serviços aprovados e medidos.
Quando a crise atingiu a empresa e o
setor, o estaleiro estava com 82% das obras concluídas e consumido
investimentos de R$ 2,7 bilhões. No total, o empreendimento custaria R$ 3,2
bilhões. Hoje, embora seja operacional, o estaleiro está parado, com apenas 90
trabalhadores responsáveis pela manutenção dos equipamentos.
Recuperação
Com uma dívida de R$ 1,2 bilhão, sem
encomendas e sem caixa, a saída para a Enseada foi entrar com pedido de
recuperação extrajudicial, em janeiro deste ano. “Diferentemente da recuperação
judicial, no extrajudicial a gente já entra com um plano de trabalho aprovado
por, no mínimo, 64% dos credores. E conseguimos isso”, diz o presidente da
empresa.
De acordo com o cronograma, a empresa
teria um tempo para negociar com os credores restantes para aderir ou não ao
plano. Após esse período, o juiz homologaria a recuperação da empresa. Até
agora, no entanto, isso não ocorreu. A expectativa era que isso ocorreria entre
esta semana e a próxima, afirma Barbosa.
Como o Enseada, outros estaleiros
estão com problema no Brasil inteiro desde que a Operação Lava Jato foi
deflagrada. As denúncias envolvendo as empreiteiras (sócias de boa parte dos
estaleiros) e a Petrobrás respingaram na Sete Brasil, que parou de pagar os
estaleiros. Além disso, a Petrobrás reviu todo o seu plano de investimento.
“Os estaleiros foram levantados com
uma expectativa da Petrobrás de um cenário extremamente otimista. A realidade
se mostrou diferente. Era um sonho que não tinha nenhum sentido. Hoje a
expectativa é muito mais modesta”, afirma Barbosa.
fonte: Estadão
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