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Mesmo sem as baixas contábeis de dezenas de bilhões observadas
no ano passado, a queda dos preços do petróleo, a estrutura ainda robusta
demais dos custos para a atual operação mais enxuta e os encargos de dívida em
alta levaram as maiores petrolíferas do Ocidente, sem contar a Petrobras - BP,
Chevron, Exxon Mobil, Pemex, Royal Dutch Shell e Total -, a registrarem
prejuízo líquido conjunto de US$ 972 milhões no primeiro trimestre, conforme
levantamento feito pelo Valor. No mesmo período do ano passado, houve lucro de
US$ 10,57 bilhões, e no quarto trimestre, as perdas totalizaram US$ 11,61
bilhões.
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Foram consideradas apenas as empresas que já publicaram seu
balanço. As gigantes orientais - como Saudi Aramco, a maior do mundo, e as
russas Rosneft e Gazprom, por exemplo - não têm capital aberto, em sua maioria,
e demoram mais para divulgar os números. A Petrobras apresenta o resultado no
dia 12 (ver a reportagem Cenário ruim também deve se repetir no Brasil).
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O preço médio do segundo contrato do barril do Brent, referência
mundial e negociado na ICE Futures de Londres, ficou em US$ 35,82 entre janeiro
e março, queda de 36,1% na comparação anual. A receita líquida das empresas,
porém, caiu em ritmo menor, de 28,7% para US$ 201,61 bilhões. Frente aos três
últimos meses de 2015, a baixa foi de 18,1%. Parte do alívio se deu por conta
do aumento na produção de petróleo. O avanço, considerando apenas líquidos dos
hidrocarbonetos, foi de 5,8% e 3,3%, respectivamente, para 11,1 milhões de
barris por dia.
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Em bases anuais, o grande problema foi que os gastos não foram
cortados em patamar semelhante à queda do faturamento. A soma de custos e
despesas - que também incluem encargos de baixas contábeis no ativo intangível
- foi de US$ 199,2 bilhões, redução de 22,8%. Na relação com o quarto
trimestre, o nível diminuiu em 24,6%. A deterioração da margem operacional foi
significativa, de 9% para 1% após 12 meses. Entre outubro e dezembro do ano
passado, as petrolíferas apresentaram prejuízo operacional conjunto de US$
18,14 bilhões.
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No primeiro trimestre, praticamente não houve baixa contábil.
Após reavaliar a rentabilidade futura de seus ativos e contabilizar
"impairments" de US$ 21,54 bilhões só nos últimos três meses do ano,
de janeiro a março essas cinco companhias deram baixa de apenas US$ 743
milhões. O valor mais significativo foi o da anglo-holandesa Shell: US$ 620
milhões líquidos. A americana Exxon Mobil seguiu sem realizar esses ajustes,
como fez durante 2015.
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Também pesou sobre o resultado do período a alta no endividamento.
A dívida líquida das petrolíferas foi a US$ 290,61 bilhões no fim de março,
41,5% a mais do que no mesmo mês do ano passado e alta de 28,7% sobre dezembro.
Além de ensejar despesas financeiras maiores para as empresas, esse passivo
também atrapalha os planos do setor de manter caixa em um momento de depressão
de sua principal commodity. A Chevron, dos Estados Unidos, por exemplo, viu o
caixa diminuir em 32% na comparação anual e ostentou o maior crescimento da
dívida.
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O avanço mais expressivo da dívida se deu com a Shell. A
companhia viu suas obrigações financeiras subirem de US$ 23,9 bilhões em março
de 2015 para US$ 69,85 bilhões no mesmo mês deste ano. A explicação é a
aquisição de US$ 59 bilhões do BG Group, que além de causar aumento de 39% no
endividamento bruto ante dezembro, também reduziu o caixa e equivalentes em
65%.
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Para a francesa Total, por outro lado, os resultados do
trimestre foram "encorajadores" para a petrolífera buscar uma nova
estrutura que permita alcançar o mais próximo possível de sua potencial geração
de caixa. A empresa viu o lucro líquido cair 39,7% em comparação anual, para
US$ 1,61 bilhão.
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Para lidar com o momento pior, os investimentos continuaram a
encolher. No primeiro trimestre deste ano, os gastos de capital chegaram a US$
28,93 bilhões. Desse número, foi desconsiderada a aquisição da BG pela Shell.
Em relação ao mesmo período de 2015, a queda foi de 24,2%, e frente aos três
meses imediatamente anteriores, houve diminuição de 16,5%. Dentre os anúncios,
a mexicana Pemex já disse que pretende investir apenas US$ 18,4 bilhões no ano,
5% a menos do que em 2015. Já a Shell reduziu sua meta em US$ 3 bilhões, para
US$ 30 bilhões.
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Exploração e produção, área diretamente afetada pelos preços do
petróleo, continuou a ser a principal pedra no sapato das empresas. O prejuízo
desse segmento chegou a US$ 6 bilhões, bem menor do que os US$ 32,23 bilhões do
quarto trimestre do ano passado, mas uma piora grande ante o lucro de US$ 4,32
bilhões de janeiro a março de 2015. No refino, as petrolíferas registraram
lucro de US$ 5,52 bilhões, 21,5% a mais trimestre sobre trimestre, mas queda de
16,4% em comparação anual.
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Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo
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