Professores de escolas particulares de São Paulo aderem à paralisação desta sexta. Paulinho da Força, do partido da base governista, está entre os organizadores do ato
Enquanto em Brasília o Governo de Michel
Temer e os deputados da sua base deixam clara a pressa para
aprovar as reformas trabalhista e previdenciária,
setores da sociedade civil se preparam para uma greve geral
na sexta-feira, 28 de abril. Bancários, metroviários e motoristas de ônibus de São
Paulo, professores da rede pública, petroleiros e servidores de
várias regiões do Brasil já anunciaram sua adesão à paralisação nacional.
Aeronautas decidirão sua participação na greve nesta quinta – mas não devem
parar totalmente. Para além das participações de categorias esperadas,
professores de algumas escolas particulares, em São Paulo, no Rio e Fortaleza,
se somaram ao protesto, com apoio de parte das diretorias. “Sabemos que na
convocação feita para a paralisação da próxima sexta existem diferentes
motivações políticas e ideológicas. A pluralidade de opiniões, no entanto, é
fundamental para o processo democrático”, escreveu, numa longa carta aos pais,
a direção do colégio jesuíta São Luís, instalado em plena avenida Paulista,
cuja mensalidade supera os 2.000 reais. A escola afirma que a greve deve ser
tratada como um “fato educativo”, “refletindo sobre o momento histórico pelo
qual passamos”.
Outras
escolas católicas aderiram, apoiadas na orientação da Confederação Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB). Várias lideranças da Igreja decidiram se manifestar
abertamente. O bispo da diocése de Santarém, no Pará, dom Flavio Giovanele, por exemplo, gravou um vídeo convocando
os fieis a se unirem ao protesto. “Convido todos a participar [da greve], com
ordem e sem bagunça, pois se se quer um Brasil de paz, é preciso manifestações
pacíficas, mas também manifestando com firmeza qual é a nossa posição
especialmente em relação à reforma da Previdência e trabalhista”.
Esta será a
primeira manifestação contra o Governo desde que as delações da Odebrecht
vieram à tona e implicaram ainda mais integrantes do primeiro escalão de Temer
e o próprio presidente. Organizada pelas maiores centrais sindicais do país, como a Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e a Força
Sindical, o ato se voltará contra o combo das reformas
da Previdência e trabalhista proposto pelo Planalto. Em São Paulo, a
concentração está prevista para as 16h no Largo da Batata, zona oeste, e deve
seguir em passeata até a residência do presidente, no bairro de Pinheiros. No
Rio de Janeiro o ato começará às 17h, na Cinelândia, região central. As
manifestações contam com o apoio de movimentos de oposição ao Planalto, como a
Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo. No final de março, movimentos de
esquerda já haviam ido às ruas contra as reformas em todo o país, em atos que
tiveram grande adesão, e que tiveram como foco as reformas e o grito de “Fora
Temer”.
Desta vez,
tem a participação do deputado federal Paulinho da Força (SD-SP), presidente da
Força Sindical. Seu partido integra a base do Governo Temer. Paulinho afirmou
que a greve “tem tudo para tornar-se um marco histórico na resistência da classe
trabalhadora contra as frequentes ameaças do Governo de, sob a alegação de
sanar os cofres públicos, suprimir direitos de todos os brasileiros”. A posição
do parlamentar, que defendeu o impeachment da ex-presidenta Dilma, e é alvo de
inquéritos da Operação Lava Jato, é influenciada por um dos
pontos da reforma trabalhista: o fim do imposto sindical obrigatório. “Sem
dinheiro o sindicato não tem como se manter e negociar”, afirma Paulinho. O
relator da proposta na Câmara, Rogério Marinho (PSDB-RN), propôs em seu texto o
fim da contribuição sindical obrigatória, uma das maiores fontes de renda da
Força. Atualmente o pagamento corresponde a um dia de trabalho, e vale para
trabalhadores sindicalizados e os não associados.
O deputado
também destaca que “a reforma trabalhista tem uma série de probleminhas
menores, mas o maior para nós é a criação de uma comissão de fábrica sem
participação do sindicato. Será como um sindicato da empresa”, diz. Ele também
dispara contra as mudanças na Previdência ("deixa muita gente de
fora"), e diz não temer represálias do Planalto: "Se tiver que sair
do Governo nós sairemos, isso não é problema".
Já a CUT
defende o fim da contribuição, mas critica a maneira como o Governo está
tratando o tema. "Queremos é que essa contribuição seja decidida por meio
de assembleia, democraticamente. E isso não está claro no projeto do relator",
afirmou Quintino Severo, secretário de Finanças da entidade à repórter Heloísa Mendonça.
A nova
paralisação massiva ocorrerá quase 100 anos após a primeira greve geral da
história do país, ocorrida em julho de 1917 e capitaneada por organizações
operárias de inspiração anarquista. Em 1996, uma greve geral contra as
privatizações propostas pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso
mobilizou cerca de 12 milhões de pessoas. Além dos sindicatos que confirmaram
adesão existe a expectativa que outras organizações engrossem o ato, uma vez
que assembleias de classe ainda irão ocorrer até o dia da greve.
Alheios à
mobilização popular, deputados federais aprovaram em comissão especial nesta
terça o relatório sobre a reforma trabalhista, e voltam nesta quarta-feira ao plenário da Casa para votar o projeto de
lei, cujo detalhamento, de 140 páginas, foi divulgado poucas horas antes dele
entrar em Comissão. A nova legislação prevê mudanças que terminam com
interpretações dúbias de alguns processos – a mesma causa trabalhista
pode ter vitória ou derrota dependendo do juiz que analisa – e ao mesmo tempo
cria obstáculos no acesso de empregados à Justiça, solicitando que ele arque
com custos de peritos se necessários, por exemplo. A gratuidade dos processos,
segundo o projeto do Governo, leva a abusos que multiplicam as ações
trabalhistas nos tribunais.
Veja algumas
entidades que irão participar da greve
Nesta
sexta-feira, setores da Igreja Católica também
devem aderir ao ato. Dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife,
divulgou vídeo em sua página da rede social Facebook convocando a população a
participar da greve. "A classe trabalhadora não pode permitir que direitos
arduamente conquistados com participação democrática, sejam retirados”,
afirmou.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil não
declarou apoio oficial à greve, mas divulgou nota criticando as mudanças no
sistema de Previdência. “O sistema da
Previdência Social possui uma intrínseca matriz ética. Ele é criado para a
proteção social de pessoas (...) na justificativa da PEC 287/2016 não existe
nenhuma referência a esses valores, reduzindo a Previdência a uma questão
econômica”, diz o texto.
O Sindicato dos Metroviários de São Paulo afirmou
que irá aderir, e que as atividades nas linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e
5-Lilás serão paralisadas por 24 horas. A linha 4-Amarela, administrada pela
ViaQuatro deve operar normalmente. O Sindicato dos Ferroviários convocou
assembleia-geral para decidir se adere ou não ao movimento. Os motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo
também aprovaram a adesão à greve.
O Sindicato dos Professores de São Paulo aderiu à
paralisação, o que deve atingir grande parte das escolas particulares do
Estado. “Temer quer acabar com os direitos e garantias dos trabalhadores de
todas as categorias”, afirma a organização em nota. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado,
que engloba a rede pública, também irá participar.
Já o Sindicato Nacional dos Aeronautas, entidade
representativa de pilotos e comissários de voo, decidiu na segunda-feira
decretar estado de greve. Na quinta-feira a categoria deve realizar nova
reunião para deliberar sobre a paralisação, mas dificilmente deve decretar
greve, uma vez que a categoria precisa avisar a paralisação com 72 horas de
antecedência. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
ligado à CUT, também declarou apoio à greve, e anunciou ações e, várias
fábricas de automóveis da região.
O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e
Região, também anunciou que vai aderir à paralisação.
Funcionários
dos Correios irão deliberar em assembleia nesta
quarta-feira se participarão ou não da greve, mas o sindicato já sinalizou que
a categoria deve aderir.
Outros Estados
A greve
geral deve ter reflexo em outros estados do Brasil. Rodoviários, metroviários,
metalúrgicos, petroleiros professores, servidores públicos e até policiais
prometem ser os mais engajados.
No Rio, fiscais, motoristas e cobradores de transporte público decidiram
aderir à greve. Se a convocatória vingar, a cidade terá os serviços de ônibus,
BRT e VLT interrompidos. Os metroviários devem decidir nesta quarta, às 18h, a
posição da categoria. Os funcionários dos Correios também decidirão sobre sua
adesão nesta quarta. Por decisão unânime, os bancários também cruzarão os
braços. Participarão também da greve servidores públicos do Estado como os
funcionários do Poder Judiciário que apenas atenderão demandas urgentes. Os
agentes penitenciários não engrossarão a paralisação, mas convocaram os
servidores de folga em uma caminhada para reivindicar questões específicas da
categoria. Outros servidores públicos participarão de um ato, no centro da
cidade às 17h, contra as medidas de austeridade do Governo do Estado, em grave
dificuldade financeira para pagar até os salários.
Em Belo Horizonte, como no Rio, motoristas de ônibus paralisarão suas atividades em
garagens e terminais, assim como o resto de trabalhadores rodoviários e os
bancários. Os rodoviários e metroviários, uma das categorias mais combatentes,
vão parar juntos, pelo menos, no Distrito Federal, no Recife, em Porto Alegre.
Em Pernambuco, a lista de categorias que aderiram à paralisação, segundo a CUT, é
ampla e vai dos metroviários à Polícia Civil. Entre os grevistas encontram-se
também os petroleiros, guardas municipais do Recife, enfermeiros, condutores de
ambulância e até o sindicato dos porteiros.
Na Bahia, espera-se a adesão dos servidores públicos de saúde, rodoviários
de Salvador, da Polícia Civil, dos petroleiros, professores da rede pública,
metalúrgicos, bancários e servidores públicos estaduais. No Ceará, deve parar o
transporte e até o comércio, assim como petroleiros, professores e servidores
públicos.
Em Mato Grosso, policiais civis, agentes penitenciários, servidores de saúde e
professores da rede estadual devem aderir à greve. Na Capital, além da
paralisação dos serviços, as categorias marcaram um grande ato na Praça
Ipiranga, centro, a partir das 15 horas, convocado pela CUT.
No Maranhão, a lista é extensa. Espera-se a adesão de professores, trabalhadores
rurais, servidores municipais e federais, funcionários dos Correios,
profissionais da saúde e dos rodoviários.
Em Alagoas, aderiram à greve professores do ensino público e particular,
bancários, servidores federais e funcionários de transporte público de Maceió.
No Amazonas, não haverá atividades na construção civil e espera-se o apoio à greve
da Polícia Civil aos petroleiros, com a adesão de outras categorias como os
professores universitários, rodoviários e bancários.
Em Pernambuco, além de rodoviários e metroviários,
servidores e professores de universidades públicas já anunciaram a adesão.
Colaborou María Martín
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