O navio-plataforma Pioneiro de Libra,
em construção em Cingapura, deve começar a operar no primeiro semestre de 2017.
Será itinerante: vai atuar em vários poços -
RIO - A produtividade dos poços
perfurados nos campos do pré-sal na Bacia de Santos está se mostrando tão alta
que está levando a Petrobras a estudar a possibilidade de, em alguns casos,
instalar plataformas menores, direcionadas à produção de um único poço
produtor. A diretora de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras, Solange
Guedes, explica que alguns reservatórios no pré-sal têm revelado a capacidade
de um poço produzir até 50 mil barris por dia. Esse volume viabiliza a
instalação de sistemas de produção de menor porte, mais econômicos que as
grandes plataformas, que demandam muitos equipamentos. A informação foi dada
pela diretora da estatal durante uma teleconferência com analistas de mercado,
na semana passada, durante a apresentação dos resultados da companhia no
segundo trimestre deste ano. O objetivo das plataformas de menor porte é
aumentar a produção a um custo menor.
Os poços do pré-sal têm apresentado elevada produtividade, sendo que
alguns atingem a produção média de 35 mil barris por dia de petróleo — volume
alcançado por poucos poços no mundo, a maior parte em terra, no Irã. De acordo
com geólogos, a produção de 50 mil barris diários em um poço representaria um
recorde mundial.
Com uma
dívida de US$ 123,9 bilhões, a maior do planeta — em grande parte resultado de
negócios equivocados, revelados pela Operação Lava-Jato —, e afetada ainda pela
forte queda dos preços do petróleo no mercado internacional, a Petrobras tem
como prioridade desenvolver projetos de maior retorno, a um custo bem menor.
Segundo técnicos do setor, uma plataforma com apenas um poço para produzir 50
mil barris por dia terá um custo inferior ao de uma plataforma de 150 mil
barris diários, que exige a instalação de, em média, dez poços produtores e
sete injetores de água.
—
Trabalharíamos com unidades com menos poços. Talvez isso seja mais rentável. É
uma questão de custo/benefício, mas uma análise que deve ser feita — explicou a
diretora da estatal aos analistas.
ESTRATÉGIA DE CURTO PRAZO
Segundo
dados de mercado, enquanto um navio-plataforma para produzir 50 mil barris
diários de petróleo pode custar em torno de US$ 1 bilhão, uma embarcação para
até 180 mil barris diários custa em torno de US$ 2,5 bilhões — e seus custos de
aluguel, portanto, também são maiores.
E é justamente
para cortar custos e dar prioridade a investimentos no aumento da produção que
a Petrobras tem reduzido a perfuração de poços exploratórios em busca de novas
reservas. Atualmente, a companhia tem em operação apenas 13 sondas
exploratórias, das quais cinco no pré-sal na Bacia de Santos, sendo três em
Libra e duas nas áreas de Florim e Tupi Nordeste, nos blocos da cessão onerosa
(regime especial para a Petrobras no pré-sal). Solange garantiu que a redução,
neste momento, da atividade exploratória não afetará, no futuro, o aumento das
reservas. Segundo a executiva, a suspensão das atividades exploratórias está
sendo feita de maneira criteriosa.
— A
estratégia da Petrobras é se concentrar no curto prazo, com o desenvolvimento
da produção. Então ela está colocando o dinheiro nos poços já perfurados, para
que estes entrem em produção, mas sem comprometer a produção futura. Com sua
atual carteira de projetos com poços de elevada produtividade, a Petrobras pode
se dar ao luxo de postergar um pouco os investimentos em exploração, sem
implicar prejuízo à frente — afirmou uma fonte próxima à companhia.
A diretora
de E&P informou, recentemente, que a Petrobras tem 31 sondas exploratórias
contratadas, contra 48 no ano passado, e que continua negociando com os fornecedores,
seja para a suspensão dos contratos de algumas, ou para a redução das taxas
diárias de aluguel.
Paulo
Valois, advogado especialista em petróleo e gás e sócio do escritório de
advocacia L.O. Baptista-SVMFA, disse que, assim como a Petrobras, todas as
grandes petrolíferas no mundo estão priorizando investimentos no aumento da
produção, a fim de reduzir os custos. Prejudicadas pelos baixos preços do
petróleo — um cenário que se mantém desde o fim de 2014 —, todas as
petrolíferas, diz Valois, estão evitando gastos com riscos exploratórios
desnecessários, a fim de reduzir ao máximo os custos e gerar caixa.
— A
Petrobras está adotando uma estratégia de curto prazo correta. Quando sua
dívida for equacionada, poderá retomar seus investimentos na exploração. Todas
as companhias foram impactadas pelos preços baixos do petróleo e precisam
reduzir custos, sendo que a Petrobras ainda sentiu os efeitos da Operação
Lava-Jato — destacou Valois.
‘SITUAÇÕES BASTANTE ESPECIAIS’
A primeira
plataforma que servirá para avaliar a possibilidade do uso de sistemas de menor
porte em alguns campos no pré-sal será o navio-plataforma Pioneiro de Libra,
previsto para entrar em operação no primeiro semestre de 2017. O FPSO (sigla de
Floating Production Storage and Offloading), que tem capacidade de produzir e
estocar petróleo, está sendo construído em Cingapura. Ele realizará os testes
de longa duração em Libra, com um único poço, com capacidade total de 50 mil
barris por dia.
Solange, da
Petrobras, ressaltou, porém, que nem todos os poços no pré-sal atingem tal
volume de produção: depende da capacidade do reservatório. Uma produção de 50
mil barris em um único poço acontece apenas em áreas excepcionais.
— Nós
atingimos, até agora, uma capacidade de conciliar engenharia com nosso melhor
reservatório, com uma projeção de que, eventualmente, possamos chegar a até 50
mil barris por poço. Mas, obviamente, trata-se de situações bastante especiais,
onde podemos conciliar alta produtividade com materiais e instalações que
possam resistir às condições ambientais e promover esse escoamento com essa
velocidade — explicou a diretora aos analistas.
O
navio-plataforma Pioneiro de Libra, que está sendo construído, será de
propriedade do consórcio formado pela Odebrecht Óleo e Gás (OOG) e a norueguesa
Teekay Petrojarl. O investimento é da ordem de US$ 1 bilhão, e, segundo fontes
técnicas com conhecimento do assunto, a unidade já está com 85% das obras
concluídas. A previsão é que o FPSO, depois de realizar os testes de produção
em um dos poços em Libra, seja deslocado para realizar outros testes em mais
seis poços, no mesmo campo.
A embarcação
vai operar em profundidades de até 2.400 metros abaixo do nível do mar. E, como
o Pioneiro de Libra se destina à realização de testes de produção em vários
poços, ou seja, é itinerante, seu nível de conteúdo local é de apenas 5%. O
FPSO será operado pela joint-venture por 12 anos. O navio-plataforma foi
contratado pelo Consórcio de Libra, formado por Petrobras (40%), Total (20%),
Shell (20%), CNPC (10%) e CNOOC (10%).
Fonte:POR RAMONA
ORDOÑEZ
29/08/2016
4:30 / atualizado 29/08/2016 7:47
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