Londres, 09/10/2009
Relatório divulgado nesta quinta-feira por um "think tank" britânico prevê que a produção de petróleo atingirá seu pico dentro de 20 anos e, a partir de então, entrará em um declínio que nem as recentes ou futuras descobertas serão capazes de reverter. Para simplesmente manter o atual nível de produção e consumo, de cerca de 30 bilhões de barris por ano, seria preciso que a cada três anos uma Arábia Saudita - o maior produtor mundial do combustível -- entrasse na linha de produção.
Para efeito de comparação, estima-se que a camada pré-sal do Brasil contenha entre 50 bilhões e 80 bilhões de barris.
A pesquisa do UK Energy Research Council destaca que, embora existam 70 mil campos de petróleo no mundo, apenas 500 respondem por dois terços das reservas.
"A maior parte da produção vem de um pequeno número de grandes campos. A maioria deles foi descoberta há muitos anos ou décadas atrás, em dois terços deles a produção já está em declínio, outros entrarão em declínio nos próximos anos, e isso terá de ser substituído por novas descobertas ou projetos que normalmente estão em campos menores", explicou à BBC Brasil o principal autor do estudo, Steve Sorrell.
"E mesmo se são grandes, como Tupi, no Brasil, estão em locais de difícil acesso e caros de explorar. Ainda que sejamos otimistas em relação às reservas do mundo, a geologia coloca restrições em relação ao que é possível extrair."
A taxa de declínio de produção em campos que já passaram de seu pico - justamente os que concentram o grosso da produção mundial - é em média de pelo menos 6,5% ao ano, diz o estudo.
Alternativa
Os pesquisadores estimam que a produção atingirá o teto até 2030, mas que existe um "risco significativo" de que o pico se dê dez antes, em 2020.
A esse passo, mais de dois terços da capacidade atual de produção precisariam ser substituídos nas próximas duas décadas apenas para evitar uma queda na oferta.
Diante deste cenário, o estudo critica o que chama de "lentidão" e "pouca preocupação" por parte de governos em agir.
Sorrell argumenta que, ainda que o mundo esteja avançando em tecnologias alternativas, como eólica e solar, estas fontes não necessariamente substituem o petróleo, cuja utilização está concentrada no setor de transportes.
"Há alternativas, como o plano europeu de aumentar a eficiência dos veículos, o uso de veículos elétricos, uso de transporte público e eficiência do transporte público", disse Sorrell.
"Mas o petróleo responde por 30% da energia do mundo e se estamos pensando em substitui-lo com fontes alternativas, isso levará décadas."
Volatilidade
Sobre o uso de biocombustíveis líquidos como alternativa ao petróleo, o pesquisador se disse "cético" em relação à possibilidade de que esta seja uma "alternativa global".
"Há limites em relação à fonte desses recursos e à concorrência com a produção de alimentos. Precisamos de alimentos para atender a uma população que cresce", disse.
Para ele, "os biocombustíveis terão um papel importante, especialmente no Brasil, mas menos nos Estados Unidos, onde a produção é cara e compete com a produção de alimentos".
Na opinião do especialista, o mundo não apenas entrará em uma fase de petróleo "caro" e de "exploração demorada", como também "volátil".
"Hoje, o barril está custando US$ 70 e estamos no meio da maior recessão mundial desde a Segunda Guerra", argumenta.
"Quando, e se, a demanda voltar a se aquecer, esperamos que os preços voltem a subir, porque justamente a recessão fez com que muitos projetos fossem cancelados ou adiados e são necessários muitos anos para extrair petróleo dos campos. Isso em si é um problema, porque desencoraja projetos e investimentos."
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