segunda-feira, 30 de abril de 2012

10 profissionais (muito) raros no Brasil

Levantamento da consultoria EXEC mostra quais são os cargos em que mais faltam profissionais qualificados

Os "moscas brancas"
São Paulo - O descompasso entre oferta e procura por mão de obra altamente especializada não é novidade no Brasil. Mas, em algumas carreiras, este apagão de mão obra qualificada atinge níveis ainda mais preocupantes.

De tão raros, alguns profissionais são apelidados de "moscas brancas" pelos recrutadores. O termo se refere aquele tipo profissional que de tão especializado (e demandado) raramente está disponível no mercado. Se é que ele existe, em alguns casos.

Levantamento feito pela consultoria EXEC para EXAME.com mostra quais são os profissionais mais raros, atualmente, do mercado brasileiro.

Petróleo e Gás: Engenheiros e Técnicos para Upstream

A cadeia produtiva de óleo e gás, como um todo, vive um cenário de descompasso entre oferta e procura por profissionais. Mas, de acordo com o levantamento da EXEC, encontrar mão de obra especializada para a atuação nos poços de petróleo é ainda mais difícil.

“Todo tipo de engenheiro que está envolvido em upstream (que é a perfuração de poços) está muito valorizado”, afirma Carlos Eduardo Altona, sócio-diretor da EXEC. O gargalo está na formação, altamente especializada, mas não somente.

“Este profissional fica muito tempo nas plataformas, por isso, você precisa de um público mais jovem”, diz o especialista. Em outras palavras, profissionais que estejam dispostos a passar longos períodos longe da terra firme.

Construção: Gerentes e Diretores de Incorporação com foco na captação de terrenos

A expansão do mercado imobiliário se, por um lado, tornou mais robustos os cofres das incorporadoras, por outro, tornou a disponibilidade de espaços para novas construções ainda mais diminuta.

Por isso, para encontrar esses locais é preciso um olhar clínico e muita experiência. Resultado? Faltam profissionais capazes de identificar este tipo de área. “Os diretores de incorporação com foco em captação de terrenos têm uma visão ampla do mercado e são conectados para saber onde estão as áreas disponíveis”, afirma Altona.

Mas isso não é tudo. O profissional que atua neste tipo de cargo precisa ter um bom relacionamento com as prefeituras das cidades dos terrenos em questão e uma elevada capacidade de negociação.

“Tem que ter um perfil comercial, negociador. Tem que gostar de negócios. Normalmente, este profissional é criado e formado em uma incorporadora”, afirma o especialista.

Geração de energia: gerentes e engenheiros de obras

Para os projetos de geração de energia, o gargalo está no nível de especialização que esta missão requer. De acordo com Rodrigo Forte, sócio-diretor da EXEC, dois tipos de profissionais são requeridos, porém raramente encontrados para esses megaempreendimentos.

Um deles é o engenheiro civil com experiência em grandes obras. O outro, o engenheiro mecânico, que tem a missão de instalar turbinas, geradores e todos os outros elementos para a geração e distribuição de energia.

Mas o caráter técnico não é o único fator que torna esses profissionais raros no mercado. “Essas obras são implantadas em locais isolados. Eles precisam estar dispostos a ficar bastante isolados por um tempo”, diz Forte.

Segundo o especialista, o cenário complica ainda mais quando os projetos englobam novas modalidades de energia, como a eólica. “O Brasil é muito tradicional em hidroenergia, quando você parte para outras formas, não há tantos profissionais capacitados”, afirma.

Agronegócio: Gerentes Agrícolas

A chegada de empresas multinacionais ao mercado sucroalcooleiro no Brasil deu um chacoalhão nas usinas tupiniquins. Até então, as empresas do setor eram formatadas em modelos de gestão tipicamente familiares. Com o novo cenário, tiveram que se profissionalizar.

E os gerentes agrícolas ganharam um papel de destaque nesta nova fase. "Estima-se que entre 60% a 70% do custo operacional de uma usina é a área agrícola. É aí que se consome mais investimento”, afirma Forte, da EXEC. Com isso, uma estratégia mal direcionada no campo e pronto: bilhões de dólares desperdiçados.

“O gerente agrícola é responsável por buscar a melhor produtividade com o menor custo. Ele tem a responsabilidade técnica sobre um orçamento muito grande”, afirma o especialista.

O trabalho vai desde selecionar o tamanho da área a ser cultivada a determinar quais espécies de cana de açúcar serão plantadas, passando por escolha de fertilizantes de noções de condições climáticas. “É uma área com muitas variáveis”, diz Forte. Fatores suficientes para incluir os gerentes agrícolas na lista dos moscas brancas dos recrutadores.

Gerentes de Planejamento Tributário (impostos indiretos)

Diante de uma das cargas tributárias mais complexas do mundo, as multinacionais que acabam de desembarcar no Brasil estão, literalmente, à caça de profissionais especializados em planejamento tributário que saibam tudo sobre impostos indiretos.

“Os impostos indiretos são aqueles que incidem sobre as operações”, diz Altona, da EXEC. “O entendimento desta legislação pode mudar desde a composição de um produto até a localização de centros de distribuição”.

Para desempenhar este papel, o profissional deve entender muito do negócio em questão e saber, em detalhes, toda a legislação. Além, é claro, de inglês fluente (para atender as multinacionais) e capacidade de fazer planejamento tributário estratégico.

“As empresas, no Brasil, não têm uma cultura de planejamento tributário”, diz o especialista. Mas, com este profissional, podem economizar, dentro da lei, milhões de reais.

Gerentes de Planejamento Tributário: planejamento internacional outbound

Mais e mais companhias nacionais estão desembarcando operações em outros países. “Do ponto de vista tributário, as companhias precisam saber como constituir essas novas operações de modo a economizar impostos”, diz Altona.

Por isso, cresce a demanda por profissionais especializados em planejamento tributário que saibam tudo sobre as peculiaridades do sistema tributário dos países destino. “Como você aprende isso? Na prática. Geralmente, essas pessoas tiveram uma formação fora do Brasil”, afirma.

Tecnologia: Gerentes de Vendas para América Latina

Nos últimos anos, o Brasil virou a sede de muitas empresas com operação na América Latina. “Isso é muito visível na indústria de tecnologia, mas há poucos executivos que tenham uma real experiência no desenvolvimento de negócios para a América Latina”, diz Forte.

Resultado? Faltam profissionais que compreendam as peculiaridades de cada país latino americano, saibam desenvolver estratégias de negócios de acordo com essas diferenças, tenham espanhol fluente e, principalmente, profundos conhecimentos de tecnologia.

Tecnologia: Engenheiros especializados em cloud computing

Até pouco tempo atrás, apenas promessas de um futuro promissor embalavam as decisões de quem decidia se especializar em computação em nuvem.

Os tempos mudaram (na velocidade da luz) e, hoje, engenheiros que saibam desenvolver aplicativos para dispositivos móveis e para a nuvem estão mais do que em alta no mercado.

De acordo com os especialistas, cada vez mais busca-se engenheiros com um bom background técnico e conhecimentos em cloud computing. “É uma evolução da internet que temos hoje”, diz Altona.

Tecnologia: Gerentes de Serviços

“Cada vez mais a tecnologia é uma commodity e os vendedores precisam estar preparados para vender não só o produto, mas a solução como um todo”, diz o especialista. Nesse quesito, os gerentes de serviços de tecnologia assumiram um papel essencial na pré e pós-venda.

“Eles estão assumindo uma abordagem consultiva para customizar a solução da companhia para a necessidade do cliente”, afirma. Na prática, tecnologia não é suficiente para atender a esta demanda. É preciso compreender, com profundidade, os negócios dos clientes para propor as melhores soluções.

“Ele tem que entender do produto, das possibilidades e também do negócio dos clientes”, diz.

Educação/Editorial: Gerentes de Vendas

“O mercado de educação cresce muito no Brasil. Há empresas estrangeiras comprando universidades e o governo que, bem ou mal, cada vez mais cria programas para investir em educação”, diz Altona. “É um mundo de oportunidades”.

Mas faltam gestores com experiência no setor e capazes de desenvolver negócios com o governo. “O executivo precisa conhecer a secretaria de educação, as leis específicas e ter uma atuação sofisticada em marketing”, afirma o especialista.

Fonte: Exame, 27 de abril de 2012


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