Exploração
Gigante americana deve operar maior reserva de petróleo do País
24/01/2009 13h45
Embora nunca tenha figurado entre as prioridades da gigante americana ExxonMobil no Brasil, a Bacia de Santos pode garantir à empresa o título de operadora da maior reserva brasileira de petróleo, estimada pelo mercado em pelo menos US$ 200 bilhões. A conquista se deu quase por acaso e pode esquentar o debate sobre o modelo regulatório do setor, que garante a companhias privadas a propriedade da produção de petróleo no País.
O bloco BM-S-22, onde a Exxon perfurou um poço batizado de Azulão, é tido por especialistas como o de maior potencial na área do pré-sal na Bacia de Santos. Estimativas conservadoras falam em reservas entre 5 bilhões e 10 bilhões de barris - em Tupi, a Petrobras confirmou ter encontrado entre 5 bilhões e 8 bilhões. Com petróleo na casa dos US$ 40, o valor da jazida de Azulão, se confirmada, pode variar entre US$ 200 bilhões e US$ 400 bilhões.
A Exxon é operadora do bloco, com 40%, mas deve seu sucesso à ousadia das compatriotas Amerada Hess e Ocean Energy, que jogaram pesado na Terceira Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), vencendo a Petrobras na disputa, em junho de 2001. Temendo sair de mãos vazias, a Hess ofereceu um bônus de R$ 59 milhões, batendo, de longe, a proposta de R$ 1,2 milhão da estatal.
No mesmo ano, a Exxon despediu-se dos leilões da ANP, arrematando duas áreas na Bacia do Espírito Santo, então a vedete do mercado brasileiro de petróleo. A aposta foi errada e as concessões foram devolvidas à ANP. Mesmo destino teve a primeira área em que a empresa atuou no Brasil, na Bacia da Foz do Amazonas, ainda no período de parcerias com a Petrobras.
"A exploração de óleo e gás é um negócio de alto risco e várias tentativas de encontrar recursos de hidrocarbonetos recuperáveis em quantidades comerciais não são bem sucedidas", comenta, em e-mail enviado ao Estado, a companhia, que no Brasil operava a rede de postos Esso, vendida no ano passado à Cosan. "Apesar disso, a Esso perseguiu várias oportunidades de exploração no Brasil."
A oportunidade mais promissora, porém, lhe foi apresentada por uma companhia com valor de mercado 10 vezes menor, que buscou parceiros com robustez suficiente para perfurar o pré-sal. Em 2004, após comprar a Ocean, a também americana Devon decidiu vender sua fatia de 20% no BM-S-22 para centrar esforços nas outras concessões no País. A Hess, então, foi ao mercado oferecer o projeto, em um processo conhecido no mercado como farm out. Repassou parte à Exxon e 20% à Petrobras - trata-se da única área do pré-sal da Bacia de Santos onde a estatal é minoritária.
As companhias não revelam o valor da operação, mas é comum que os novos parceiros se comprometam com os investimentos iniciais em exploração. Nesse caso, especula-se que Exxon e Petrobras financiaram a primeira sísmica 3D, uma espécie de ultrassonografia do subsolo, na área. O trabalho, feito em 2005, tem custo estimado por especialistas entre US$ 20 milhões e US$ 40 milhões.
Gente que teve acesso aos resultados da sísmica diz que o potencial do BM-S-22 é bem superior ao de Tupi. O bloco abrange a maior parte da estrutura geológica batizada inicialmente de Pão de Açúcar, que pode estender-se por concessões da Petrobras - onde foram descobertos os campos Carioca e Caramba - e por áreas ainda não concedidas, pertencentes à União.
Se confirmada a extensão do reservatório, Exxon, Petrobras, demais sócios e a União terão de negociar um acordo de produção, chamado de "unitização", segundo o qual cada consórcio fica com parcela da produção equivalente à participação na reserva total. A definição de um novo modelo regulatório é fundamental para que esse processo seja levado adiante.
De qualquer forma, ainda há tempo para os trabalhos legislativos. A Exxon prevê a perfuração de mais um ou dois poços na área, para delimitar as reservas. Especialistas preveem o início da produção no BM-S-22, caso o campo seja comercialmente viável, apenas para meados da próxima década.
Mesmo assim, a possibilidade de uma empresa estrangeira dominar parcela significativa do pré-sal já é suficiente para acirrar os ânimos dos defensores de mudanças no setor. "Consultamos advogados e sabemos que é muito difícil mexer no que já foi licitado, mas esperamos que esse anúncio seja levado em consideração pelo Congresso, quando for avaliar a revisão da Lei do Petróleo", diz o secretário da presidência da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Paulo César Martim.
A federação coordena um grupo de entidades de classe, que inclui o Movimento dos Sem Terra (MST), em uma mobilização pela volta do monopólio estatal. No momento, estão colhendo assinaturas para enviar ao Congresso um projeto sobre o tema. "O petróleo produzido por essas empresas nem passa pelo continente, vai direto da plataforma para o exterior. Já a Petrobras é motor do desenvolvimento brasileiro”.
A Exxon diz que não comenta assuntos internos dos países onde atua. De todo modo, o risco de quebra de contratos é mínimo "Esse vem sendo o comportamento do governo Lula, que tem dito que qualquer mudança será para o futuro", diz o embaixador Sebastião do Rego Barros, ex-diretor da ANP.
Fonte: AE
domingo, 25 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
Quebra do monopólio divide interesses empresariais e nacionais
por: Blog Mundo Petróleo
Até agosto de 1997 a Petrobras detinha o monopólio na área de petróleo no Brasil. Com a quebra do monopólio, o mercado brasileiro abriu suas portas para o capital estrangeiro e cerca de 35 empresas já se instalaram no país. A Petrobras ainda é a maior empresa de petróleo do Brasil, porém, expressões como internacionalização, expansão dos negócios para outros setores e parcerias com empresas estrangeiras passaram a definir seus novos rumos.
As análises dos especialistas sobre as mudanças e os possíveis benefícios desse processo são bastante diversas e ora parecem focalizar interesses empresariais, compondo um cenário de sucesso, aumento de produção e faturamento no setor petrolífero brasileiro; ora ligados ao atendimento das demandas do povo brasileiro, apresentando dúvidas e críticas à abertura do mercado, sugerindo que as cores do nacionalismo, outrora tão vivas, podem estar desbotando no setor petrolífero. Mas seriam opostas estas visões? Defender os interesses da empresa significa negligenciar os interesses dos brasileiros e vice-versa? E as críticas à quebra do monopólio seriam análises nacionalistas românticas? Um dos maiores desafios para os atores sociais envolvidos nesse processo parece ser o diálogo entre opiniões diversas em busca de um equilíbrio entre essas duas óticas.
Mudança no papel do Estado
O fim do monopólio, determinado pela Lei do Petróleo em 6 de agosto 1997, instituiu não apenas um conjunto de mudanças de caráter técnico-administrativo, mas uma redefinição no papel do Estado. De produtor e provedor o Estado passa para regulador e fiscalizador. Para alguns especialistas esta é uma tendência natural do mercado internacional. Para outros envolve inúmeras escolhas de caráter político-social, atingindo diretamente o Estado de Bem-Estar Social.
Para atuar nesse novo papel foi criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP), um órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, que passou a regular e fiscalizar a indústria de petróleo no Brasil. Uma das ocupações da ANP é promover licitações para a concessão de áreas ou blocos destinados à exploração de petróleo e de gás natural. Até o momento, quatro licitações (nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2002) foram realizadas, resultando na concessão de blocos exploratórios à Petrobras e a várias outras empresas internacionais (mais detalhes aqui).
Nesses quase cinco anos de atuação da ANP, a quebra do monopólio atingiu o setor de exploração e produção (chamado de upstream) que "foi privatizado e não tem mais participação pública", conta Saul Suslick do Centro de Estudos em Petróleo (Cepetro), da Unicamp. Na avaliação do pesquisador a condução da ANP nesse processo foi "muito boa". Mas, por outro lado, ele ressalta que não houve muito sucesso no setor de refino, distribuição e transporte (downstream). Para ele, este setor permanece praticamente inalterado, uma vez que existem apenas duas refinarias privadas e a Petrobras continua responsável por cerca de 95% das atividades.
João Rodrigues Neto, professor e pesquisador do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) analisa o processo de concessão sob outra perspectiva: "Essas são concessões de transferência do patrimônio público para o patrimônio privado, e essa perda de patrimônio para empresas estrangeiras gera uma divisão das reservas nacionais, que antes eram da Petrobras, comprometendo o futuro da empresa que estava garantido".
Nova imagem da Petrobras
Em um cenário de abertura, a Petrobras "teria que se reinventar, mudar com os novos tempos", diz Jorge Camargo diretor da Área Internacional da empresa. Mudar a imagem da empresa envolveu a criação em 1999, de um novo plano estratégico baseado em três pilares: consolidar o que foi construído, reformando para competir; internacionalizar a empresa, comprando ativos no exterior; e explorar os setores de energia elétrica e gás. Estes dois últimos pilares entram em jogo na empresa após a quebra do monopólio.
Tendo em vista a abertura de mercado e a globalização econômica, para a Petrobras "não faz mais sentido se limitar às fronteiras domésticas, é preciso ir além dos mercados nacionais", diz Camargo, e ressalta que "a Petrobras mudou muito, perdeu o monopólio, mas ganhou em liberdade". Na perspectiva da Petrobras a internacionalização aparece como algo inevitável e necessário, em especial porque a entrada em mercados estrangeiros reduz a relação custo-capital da empresa, que é mais alto do que das empresas concorrentes devido, entre outras coisas, ao chamado risco-Brasil. Atualmente 5% da receita provêm de projetos internacionais. A meta é atingir 20%. Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia), da UFRJ, analisa que "internacionalizar é altamente válido para a "Petro" e altamente duvidoso para o "Bras", levando em consideração que os problemas nacionais não têm sido atendidos, como o desemprego". Para o pesquisador, a internacionalização somente é válida se "atende aos interesses nacionais" como, aliás, determina o primeiro objetivo da Lei de Petróleo.
Bacoccoli conta que no Brasil, existia uma companhia francesa e que um dia resolveu fechar e ir embora. Na época, o pesquisador questionou o porquê dessa decisão a um dos administradores da empresa, que prontamente respondeu: "porque François Mitterrand ganhou as eleições na França, e ele tem compromissos com a sociedade francesa. É muito dinheiro para gerar poucos empregos para os franceses". Na avaliação de Bacoccoli "a 'Petro' faz muito bem, mas a 'Bras' não", levando em consideração a existência de inúmeras bacias brasileiras, na Amazônia e estados do Nordeste, que não estão sendo exploradas, e a possibilidade de geração de empregos com investimentos no Brasil. Porém, Camargo, da Área Internacional da Petrobras, insiste que "a internacionalização não exclui os investimentos no Brasil, inclusive aumenta, além de gerar empregos dentro e fora do país".
Rodrigues Neto, da UFRN, ressalta que a internacionalização está ligada a uma política ampla de destruição dos monopólios estatais e formação de oligopólios por meio das fusões entre empresas e a compra de empresas em outros países. Essa política visa, na opinião do pesquisador, reduzir o número de empresas no mundo que atuam no setor petrolífero, tornando-as ainda mais fortes.
Outro ponto estratégico para a empresa, com a quebra do monopólio, é a atuação no setor elétrico e de gás. "Essa é uma tendência das empresas de petróleo que estão se configurando como empresas energéticas", comenta Suslick. A British Petroleum, por exemplo, mudou há algum tempo o seu slogan para "Beyond Petroleum" (além do petróleo). Em parte, essa tendência pode estar associada à ampla discussão em torno das conseqüências ambientais da dependência dos hidrocarbonetos (moléculas de hidrogênio e carbono, que compõe o petróleo). Mas, também porque a indústria do petróleo requer muitos investimentos. "Além disso as reservas têm de 30 a 40 anos e as empresas precisam estar preparadas para isso", explica Suslick.
Quem foi beneficiado?
A ANP divulgou no site oficial da agência que as vantagens da quebra do monopólio são: para o país, a maior arrecadação fiscal e a diminuição das importações de petróleo; para os consumidores, a melhoria na qualidade dos derivados de petróleo e uma política de preços que reflete o comportamento do mercado internacional.
Apesar do que diz a ANP, há dúvidas sobre os benefícios obtidos pelos consumidores nos últimos cinco anos. Os preços dos combustíveis, derivados e gás estão altos, atingindo toda uma cadeia de preços de alimentos, medicamentos, e outros produtos. "O brasileiro está pagando mais caro pelos combustíveis e pelo gás, por exemplo, do que se paga nos Estados Unidos, apesar do aumento de produtividade que aproxima o país de uma possível autonomia no setor", chama a atenção Bacoccoli. "Em primeiro lugar, a abertura do setor tem que vir em benefício do povo brasileiro", defende o pesquisador, lembrando que na Noruega (terceiro maior exportador de petróleo do mundo), a legislação do setor petrolífero só tem um artigo que destaca exatamente este ponto.
Quanto à Petrobras, há a idéia de que a empresa foi beneficiada com a quebra do monopólio. Saul Suslick avalia que a saída do monopólio foi boa, em parte porque "antes se misturava uma empresa com um agente regulador", e destaca que hoje a Petrobras apresenta um saldo positivo de tecnologia, investimento em P&D, produção e exploração, faturamento e participação das universidades.
Na opinião de Rodrigues Neto, quem teve vantagens com a abertura de mercado foi o setor privado. Um das primeiras medidas tomadas após o fim do monopólio foi o alinhamento dos preços brasileiros com o mercado internacional. Essa medida beneficiou em grande parte as empresas privadas que foram estimuladas a entrar no mercado brasileiro. O pesquisador lança também dúvidas sobre os benefícios para a Petrobras que, na sua opinião, "tornou-se enfraquecida com a quebra do monopólio, pois perdeu autonomia tanto no mercado interno quanto externo e atualmente detém menos reservas e tem que competir com outras empresas".
Próximo governo: dúvidas e desafios
O Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou durante a campanha, e após a vitória, que não vai permitir as influências das flutuações do dólar nos preços do petróleo, mas os especialistas advertem que se isso for feito faltará estímulo ao setor. Além de complicações com as companhias internacionais que já investiram milhões de dólares no Brasil, novos empreendimentos não serão estimulados se o país tiver preços controlados. O desafio do próximo governo é "amarrar essas duas pontas", diz Bacoccoli, ou seja, estimular a atividade com investimentos no setor e garantir preços baixos, sendo também importante criar um "atenuador" para os picos eventuais de alta do dólar.
Quanto a defender os interesses do consumidor parece não haver dúvidas. Mas investir em quê? Quais seriam as prioridades? Bacoccoli acredita que seria bom que o Brasil voltasse a construir estaleiros e defende que se pense mais 'Bras' do que 'Petro'. "Com a produção brasileira de estaleiros nós vamos continuar nos capacitando, serão gerados empregos, conhecimento e tecnologia nacional, o que seria fundamental porque nós estamos nos esquecendo de como se faz isso e assim estamos perdendo conhecimento".
Na cadeia de produção do "poço ao posto", o país domina tecnologia e o conhecimento necessário para a exploração de petróleo. Bacoccoli ressalta que a capacitação de profissionais foi um ganho importante durante o período do monopólio e questiona: "com quem ficará a capacitação agora, já que não há mais obrigação de ser vinculada à Petrobras? Vai passar para as universidades? E nós vamos ser capazes de formar com a competência que a Petrobras fez?
A inexperiência na área de regulação no Brasil também é, na opinião de Suslick, algo que precisa ser superado. Esse período de experiência criou "importantes momentos de aprendizagem, mas o Brasil precisa ter agentes reguladores capacitados que atuem de forma mais eficaz, inclusive na defesa do consumidor e do meio ambiente", ressalta.
Blog Mundo Petróleo
Até agosto de 1997 a Petrobras detinha o monopólio na área de petróleo no Brasil. Com a quebra do monopólio, o mercado brasileiro abriu suas portas para o capital estrangeiro e cerca de 35 empresas já se instalaram no país. A Petrobras ainda é a maior empresa de petróleo do Brasil, porém, expressões como internacionalização, expansão dos negócios para outros setores e parcerias com empresas estrangeiras passaram a definir seus novos rumos.
As análises dos especialistas sobre as mudanças e os possíveis benefícios desse processo são bastante diversas e ora parecem focalizar interesses empresariais, compondo um cenário de sucesso, aumento de produção e faturamento no setor petrolífero brasileiro; ora ligados ao atendimento das demandas do povo brasileiro, apresentando dúvidas e críticas à abertura do mercado, sugerindo que as cores do nacionalismo, outrora tão vivas, podem estar desbotando no setor petrolífero. Mas seriam opostas estas visões? Defender os interesses da empresa significa negligenciar os interesses dos brasileiros e vice-versa? E as críticas à quebra do monopólio seriam análises nacionalistas românticas? Um dos maiores desafios para os atores sociais envolvidos nesse processo parece ser o diálogo entre opiniões diversas em busca de um equilíbrio entre essas duas óticas.
Mudança no papel do Estado
O fim do monopólio, determinado pela Lei do Petróleo em 6 de agosto 1997, instituiu não apenas um conjunto de mudanças de caráter técnico-administrativo, mas uma redefinição no papel do Estado. De produtor e provedor o Estado passa para regulador e fiscalizador. Para alguns especialistas esta é uma tendência natural do mercado internacional. Para outros envolve inúmeras escolhas de caráter político-social, atingindo diretamente o Estado de Bem-Estar Social.
Para atuar nesse novo papel foi criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP), um órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, que passou a regular e fiscalizar a indústria de petróleo no Brasil. Uma das ocupações da ANP é promover licitações para a concessão de áreas ou blocos destinados à exploração de petróleo e de gás natural. Até o momento, quatro licitações (nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2002) foram realizadas, resultando na concessão de blocos exploratórios à Petrobras e a várias outras empresas internacionais (mais detalhes aqui).
Nesses quase cinco anos de atuação da ANP, a quebra do monopólio atingiu o setor de exploração e produção (chamado de upstream) que "foi privatizado e não tem mais participação pública", conta Saul Suslick do Centro de Estudos em Petróleo (Cepetro), da Unicamp. Na avaliação do pesquisador a condução da ANP nesse processo foi "muito boa". Mas, por outro lado, ele ressalta que não houve muito sucesso no setor de refino, distribuição e transporte (downstream). Para ele, este setor permanece praticamente inalterado, uma vez que existem apenas duas refinarias privadas e a Petrobras continua responsável por cerca de 95% das atividades.
João Rodrigues Neto, professor e pesquisador do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) analisa o processo de concessão sob outra perspectiva: "Essas são concessões de transferência do patrimônio público para o patrimônio privado, e essa perda de patrimônio para empresas estrangeiras gera uma divisão das reservas nacionais, que antes eram da Petrobras, comprometendo o futuro da empresa que estava garantido".
Nova imagem da Petrobras
Em um cenário de abertura, a Petrobras "teria que se reinventar, mudar com os novos tempos", diz Jorge Camargo diretor da Área Internacional da empresa. Mudar a imagem da empresa envolveu a criação em 1999, de um novo plano estratégico baseado em três pilares: consolidar o que foi construído, reformando para competir; internacionalizar a empresa, comprando ativos no exterior; e explorar os setores de energia elétrica e gás. Estes dois últimos pilares entram em jogo na empresa após a quebra do monopólio.
Tendo em vista a abertura de mercado e a globalização econômica, para a Petrobras "não faz mais sentido se limitar às fronteiras domésticas, é preciso ir além dos mercados nacionais", diz Camargo, e ressalta que "a Petrobras mudou muito, perdeu o monopólio, mas ganhou em liberdade". Na perspectiva da Petrobras a internacionalização aparece como algo inevitável e necessário, em especial porque a entrada em mercados estrangeiros reduz a relação custo-capital da empresa, que é mais alto do que das empresas concorrentes devido, entre outras coisas, ao chamado risco-Brasil. Atualmente 5% da receita provêm de projetos internacionais. A meta é atingir 20%. Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia), da UFRJ, analisa que "internacionalizar é altamente válido para a "Petro" e altamente duvidoso para o "Bras", levando em consideração que os problemas nacionais não têm sido atendidos, como o desemprego". Para o pesquisador, a internacionalização somente é válida se "atende aos interesses nacionais" como, aliás, determina o primeiro objetivo da Lei de Petróleo.
Bacoccoli conta que no Brasil, existia uma companhia francesa e que um dia resolveu fechar e ir embora. Na época, o pesquisador questionou o porquê dessa decisão a um dos administradores da empresa, que prontamente respondeu: "porque François Mitterrand ganhou as eleições na França, e ele tem compromissos com a sociedade francesa. É muito dinheiro para gerar poucos empregos para os franceses". Na avaliação de Bacoccoli "a 'Petro' faz muito bem, mas a 'Bras' não", levando em consideração a existência de inúmeras bacias brasileiras, na Amazônia e estados do Nordeste, que não estão sendo exploradas, e a possibilidade de geração de empregos com investimentos no Brasil. Porém, Camargo, da Área Internacional da Petrobras, insiste que "a internacionalização não exclui os investimentos no Brasil, inclusive aumenta, além de gerar empregos dentro e fora do país".
Rodrigues Neto, da UFRN, ressalta que a internacionalização está ligada a uma política ampla de destruição dos monopólios estatais e formação de oligopólios por meio das fusões entre empresas e a compra de empresas em outros países. Essa política visa, na opinião do pesquisador, reduzir o número de empresas no mundo que atuam no setor petrolífero, tornando-as ainda mais fortes.
Outro ponto estratégico para a empresa, com a quebra do monopólio, é a atuação no setor elétrico e de gás. "Essa é uma tendência das empresas de petróleo que estão se configurando como empresas energéticas", comenta Suslick. A British Petroleum, por exemplo, mudou há algum tempo o seu slogan para "Beyond Petroleum" (além do petróleo). Em parte, essa tendência pode estar associada à ampla discussão em torno das conseqüências ambientais da dependência dos hidrocarbonetos (moléculas de hidrogênio e carbono, que compõe o petróleo). Mas, também porque a indústria do petróleo requer muitos investimentos. "Além disso as reservas têm de 30 a 40 anos e as empresas precisam estar preparadas para isso", explica Suslick.
Quem foi beneficiado?
A ANP divulgou no site oficial da agência que as vantagens da quebra do monopólio são: para o país, a maior arrecadação fiscal e a diminuição das importações de petróleo; para os consumidores, a melhoria na qualidade dos derivados de petróleo e uma política de preços que reflete o comportamento do mercado internacional.
Apesar do que diz a ANP, há dúvidas sobre os benefícios obtidos pelos consumidores nos últimos cinco anos. Os preços dos combustíveis, derivados e gás estão altos, atingindo toda uma cadeia de preços de alimentos, medicamentos, e outros produtos. "O brasileiro está pagando mais caro pelos combustíveis e pelo gás, por exemplo, do que se paga nos Estados Unidos, apesar do aumento de produtividade que aproxima o país de uma possível autonomia no setor", chama a atenção Bacoccoli. "Em primeiro lugar, a abertura do setor tem que vir em benefício do povo brasileiro", defende o pesquisador, lembrando que na Noruega (terceiro maior exportador de petróleo do mundo), a legislação do setor petrolífero só tem um artigo que destaca exatamente este ponto.
Quanto à Petrobras, há a idéia de que a empresa foi beneficiada com a quebra do monopólio. Saul Suslick avalia que a saída do monopólio foi boa, em parte porque "antes se misturava uma empresa com um agente regulador", e destaca que hoje a Petrobras apresenta um saldo positivo de tecnologia, investimento em P&D, produção e exploração, faturamento e participação das universidades.
Na opinião de Rodrigues Neto, quem teve vantagens com a abertura de mercado foi o setor privado. Um das primeiras medidas tomadas após o fim do monopólio foi o alinhamento dos preços brasileiros com o mercado internacional. Essa medida beneficiou em grande parte as empresas privadas que foram estimuladas a entrar no mercado brasileiro. O pesquisador lança também dúvidas sobre os benefícios para a Petrobras que, na sua opinião, "tornou-se enfraquecida com a quebra do monopólio, pois perdeu autonomia tanto no mercado interno quanto externo e atualmente detém menos reservas e tem que competir com outras empresas".
Próximo governo: dúvidas e desafios
O Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou durante a campanha, e após a vitória, que não vai permitir as influências das flutuações do dólar nos preços do petróleo, mas os especialistas advertem que se isso for feito faltará estímulo ao setor. Além de complicações com as companhias internacionais que já investiram milhões de dólares no Brasil, novos empreendimentos não serão estimulados se o país tiver preços controlados. O desafio do próximo governo é "amarrar essas duas pontas", diz Bacoccoli, ou seja, estimular a atividade com investimentos no setor e garantir preços baixos, sendo também importante criar um "atenuador" para os picos eventuais de alta do dólar.
Quanto a defender os interesses do consumidor parece não haver dúvidas. Mas investir em quê? Quais seriam as prioridades? Bacoccoli acredita que seria bom que o Brasil voltasse a construir estaleiros e defende que se pense mais 'Bras' do que 'Petro'. "Com a produção brasileira de estaleiros nós vamos continuar nos capacitando, serão gerados empregos, conhecimento e tecnologia nacional, o que seria fundamental porque nós estamos nos esquecendo de como se faz isso e assim estamos perdendo conhecimento".
Na cadeia de produção do "poço ao posto", o país domina tecnologia e o conhecimento necessário para a exploração de petróleo. Bacoccoli ressalta que a capacitação de profissionais foi um ganho importante durante o período do monopólio e questiona: "com quem ficará a capacitação agora, já que não há mais obrigação de ser vinculada à Petrobras? Vai passar para as universidades? E nós vamos ser capazes de formar com a competência que a Petrobras fez?
A inexperiência na área de regulação no Brasil também é, na opinião de Suslick, algo que precisa ser superado. Esse período de experiência criou "importantes momentos de aprendizagem, mas o Brasil precisa ter agentes reguladores capacitados que atuem de forma mais eficaz, inclusive na defesa do consumidor e do meio ambiente", ressalta.
Blog Mundo Petróleo
domingo, 11 de janeiro de 2009
70 Anos do Primeiro Poço Produtor do Brasil
por: David Ribeiro
Muitos não podem está recordando, mas no próximo dia 21 de janeiro estamos comemorando 70 anos que o primeiro poço de petróleo jorrou no Brasil por intermédio de Oscar Cordeiro.
A questão do petróleo no Brasil era muito complexa, os pioneiros não teriam que vencer apenas as barreiras geológicas que era descobrir um local adequado para a perfuração, não só teria que vencer a falta de recurso para estes empreendimentos, mas o principal obstáculo muito maior; convencer o governo federal que não acreditava no potencial petrolífero daquela região, conhecida como Lobato, as pesquisas estavam sendo direcionadas para outras áreas no Sul e no Sudeste do país, não havia interesse naquela região do Recôncavo Baiano.
Oscar Cordeiro como outros que entraram nesta luta deram um grande exemplo de perseverança, mesmo sendo desenganados várias vezes por geólogos do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) , mas Oscar continuou firme em seus objetivos.
Após Várias tentativas Oscar Cordeiro conseguiu o apoio de Sílvio Fróes, do Instituto Nacional de Tecnologia, que foi pessoalmente a Lobato e recolheu amostras do óleo, então depois das análises ficou convencido de que existia forte indício de petróleo naquele lugar.
Getúlio Vargas o presidente da época se interessou pelas pesquisas e foi visitar o Instituto Nacional de Tecnologia, onde teve um diálogo com Fróes e perguntou.
- então professor Fróes em Lobato te mesmo petróleo?
- Não há dúvida, presidente. É só mandar pesquisar.
Então Getúlio ordenou para dar prioridade à região de Lobato.
Após duas tentativas em vão, o terceiro poço perfurado de número n°.: 163. Trouxe a superfície o petróleo. No dia 21 de janeiro de 1939.
Oscar Cordeiro que relatou que não teria descanso enquanto não visse petróleo jorrar daquele poço deu seu depoimento:
“No dia 22 de janeiro, domingo fui cedíssimo para Lobato e tive a mais formidável sensação de minha vida. O petróleo manava da boca do poço e corria pelo chão rumo ao leito da estrada de ferro!...”
Estava descoberto o petróleo no Brasil!
por: David Ribeiro
Muitos não podem está recordando, mas no próximo dia 21 de janeiro estamos comemorando 70 anos que o primeiro poço de petróleo jorrou no Brasil por intermédio de Oscar Cordeiro.
A questão do petróleo no Brasil era muito complexa, os pioneiros não teriam que vencer apenas as barreiras geológicas que era descobrir um local adequado para a perfuração, não só teria que vencer a falta de recurso para estes empreendimentos, mas o principal obstáculo muito maior; convencer o governo federal que não acreditava no potencial petrolífero daquela região, conhecida como Lobato, as pesquisas estavam sendo direcionadas para outras áreas no Sul e no Sudeste do país, não havia interesse naquela região do Recôncavo Baiano.
Oscar Cordeiro como outros que entraram nesta luta deram um grande exemplo de perseverança, mesmo sendo desenganados várias vezes por geólogos do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) , mas Oscar continuou firme em seus objetivos.
Após Várias tentativas Oscar Cordeiro conseguiu o apoio de Sílvio Fróes, do Instituto Nacional de Tecnologia, que foi pessoalmente a Lobato e recolheu amostras do óleo, então depois das análises ficou convencido de que existia forte indício de petróleo naquele lugar.
Getúlio Vargas o presidente da época se interessou pelas pesquisas e foi visitar o Instituto Nacional de Tecnologia, onde teve um diálogo com Fróes e perguntou.
- então professor Fróes em Lobato te mesmo petróleo?
- Não há dúvida, presidente. É só mandar pesquisar.
Então Getúlio ordenou para dar prioridade à região de Lobato.
Após duas tentativas em vão, o terceiro poço perfurado de número n°.: 163. Trouxe a superfície o petróleo. No dia 21 de janeiro de 1939.
Oscar Cordeiro que relatou que não teria descanso enquanto não visse petróleo jorrar daquele poço deu seu depoimento:
“No dia 22 de janeiro, domingo fui cedíssimo para Lobato e tive a mais formidável sensação de minha vida. O petróleo manava da boca do poço e corria pelo chão rumo ao leito da estrada de ferro!...”
Estava descoberto o petróleo no Brasil!
por: David Ribeiro
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Click no link abaixo para assistir essa palestra http://midia.com.puc-rio.br/integra/20090827_chevron.wmv