segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Petróleo (NÃO) é Nosso

André Costa

A Gritaria está sendo geral, o pré-sal está virando a cabeça de todo mundo, todos querem um quinhão dessa “nova fronteira”.
Você conhece o Capitulo V, Seção I, Artigo 26 da nossa “maravilhosa” Lei do Petróleo 9478/97? Vamos a ela:
Art. 26. A concessão implica, para o concessionário, a obrigação de explorar, por sua conta e risco e, em caso de êxito, produzir petróleo ou gás natural em determinado bloco, conferindo-lhe a propriedade desses bens, após extraídos, com os encargos relativos ao pagamento dos tributos incidentes e das participações legais ou contratuais correspondentes.

Até onde consegui pesquisar, nenhuma nação do planeta tem um dispositivo desse em sua Lei. Discuta-se o artigo:
“por sua conta e risco” Eu desconheço um concessionário que tenha explorado em uma área onde a “nossa” Petrobras não tenha partido na frente. Então estamos falando de que risco? Deve ser que nem todo poço perfurado ocorre óleo, mas mesmo os que não resulta em comerciais gera dados para futuras perfurações. Não me venha com história de 51 anos de monopólio, afinal nos anos 60, 70 e início dos anos 80 existiam os contratos de risco (permitiam a união de outras operadoras com a Petrobras na exploração de petróleo).
“em caso de êxito, produzir petróleo ou gás natural em determinado bloco, conferindo-lhe a propriedade desses bens,” Aqui começa o equívoco dessa Lei. O petróleo não é um commodity comum, o petróleo é um bem estratégico para a nação que o tem. O EUA é uma potência em grande parte graças ao petróleo que possui nas suas terras e nas que são “donos”. Você sabia que os Estados Unidos possuem uma reserva estratégica de petróleo enterrada próxima ao Golfo do México de mais 800 milhões de Barris?
“após extraídos, com os encargos relativos ao pagamento dos tributos incidentes e das participações legais ou contratuais correspondentes.” O que a operadora recolhe a União a título desses tributos é o seguinte: royalties 10% ,mas um dispositivo da mesma Lei permite a redução até 5% por tanto pesquise uma produção que pague mais de 5%, eu não a encontrei. E não ultrapassa 10% de impostos variados, e existe uma participação especial sobre grande produção (regulamentada pela Lei nº 10.261, de 2001) e não vai ultrapassar a 15% do montante total, ou seja, totaliza no máximo 30% da riqueza gerada ficando no Brasil.
A questão não é essa, como petróleo não um commodity comum, não é o dinheiro o fator predominante e sim o produto em si. A Líbia, por exemplo, compra 80% de sua produção de qualquer operadora que produzir em seu país – é Lei. Agora me passa uma coisa, no mundo capitalista a regra geral e ter liberdade, mas penso que as “majors” não devam está muito interessada em quem vai pagar a conta uma vez que nesse mesmo mundo capitalista o mais importante é o dinheiro e não seu dono. A não ser que exista outra razão, mas isso já foi exaustivamente debatido há tempos por Monteiro Lobato e não deu em nada. Opa!! Rendeu-lhe a quebra de sua empresa de petróleo e a sua prisão por quase quatro meses.
Por tanto voltaremos ao tempo atual onde o capitalismo está bem consolidado. Devemos sim ter uma discussão ampla e séria, nos moldes do “O Petróleo é Nosso” no que tange a abrangência nacional e não uma discussão de gabinete onde uma meia-dúzia de pessoas que nunca se sujaram de petróleo, apenas com o “realpetro” tenha “suas” opiniões expressas na mídia todos os dias.
Devemos encarar o assunto petróleo com mais seriedade, pois corremos o risco de repetir o erro da Nigéria que embora tenha mais óleo que o Brasil vive sem os derivados na sua Nação ou até o Irã, um dos maiores produtores do planeta, que vive com o racionamento constante de combustíveis.
O mercado brasileiro está aberto ao capital estrangeiro, alguma “majors” interessou-se pelo parque de refino? O consumo interno de derivado aumenta a cada ano, o Brasil já importa diariamente milhares de barris de óleo diesel, sem contar os milhares de m3 de GN e GLP. Exportar óleo cru (brasileiro) a 75 dólares e importar derivados ao dobro desse valor não me parece uma matemática muito boa.
No futuro bem próximo teremos problemas sérios de disponibilidade de derivados e seremos “super potência” produtora, mas a balança comercial sempre negativa.
A prata já foi indicativo para determinar as nações poderosas, já foi o ouro e até há pouco tempo o dólar possuía essa conotação, mas já algum tempo o petróleo vem ocupando essa posição. O petróleo tem motivado as recentes guerras e desentendimento entre nações.
Por isso o foco da discussão deve ser mudado, não interessa quem vai produzir o pré-sal, já está claro que essa briga é política. A criação de uma nova empresa 100% estatal (“Petrosal”) vai interessar a indústria do petróleo ou aos “políticos” de plantão?
O foco deve ser: para onde vai essa produção. O que fazer dessa produção. Vamos entregar aos países desenvolvidos não gerando riqueza para povo como faz a Venezuela, a Bolívia, a Nigéria? A discussão deve ser um novo modelo regulatório, onde a produção deva ser comercializada para o país que a possua.

4 comentários:

Unknown disse...

Grande André! Quanto tempo cara!
Queria te parabenizar pelo excelente artigo, sempre pertinente em suas opiniões!
Gostaria de saber se vc me permite estar divulgando este artigo no blog TecnoPeG, teria como??

E ai cara, quando vamos nos encontrar pra conversar!
Estou com umas idéias legais!

Um abraço

todos disse...

Por André Luiz.

andre2r@oi.com.br



Parabenizo o excelente e esclarecedor artigo do Amigo André Costa sobre a Lei do petróleo e os riscos que corremos em não atualiza-la. Cabe ressaltar que se não forem adotadas politicas /iniciativas desenvolvimentistas para a chamada "Área do Pré-Sal", acabaremos como produtores primários de uma cadeia produtiva em que os maiores valores agregados não estão na matéria prima e sim na gama de produtos advindos de sua origem. Faz-se necessário uma reestruturação , adequação, adaptação e acima de tudo investimentos nas áreas de construção naval, onde os principais parques de estaleiros encontram-se na Bahia, Rio de Janeiro, Itajaí (SC) e Rio Grande (RS), pois destes estaleiros sairam alguns dos módulos de produção de plataformas como a P-50, P-51, além de embarcações de apoio. Deve-se tambem ter uma especial atenção aos projetos de Construção de Plantas de refino e pólos de petroquímica, pois os existentes hoje poderão não ser capazes de absorver a produção e consequentemente a demanda de produtos acabados. Por fim me preocupa muito a questão da logistica na área do Pré-sal. este ano tive a oportunidade de estar na Sonda SS-55 - Ocean Alliance - da Brasdrill que estava à época operando na perfuração do campo de Tupy e fiquei impressionado com a distância e o tempo entre a saida de Jacarepaguá e a chegada à SS-55: 1h e 40 minutos de vôo, quando em média temos de 50 mimutos a uma hora em Marlin Sul na BC e 8 minutos no caso de Sergipe, fica a questão : e em caso de emergência haverá um centro de controle de contingências igual e com o mesmo aprestamento do desenvolvido na BC após o afundamento da P-36? O apoio logístico através de embarcações de suprimentos , equipamentos e demais insumos terá uma eficacia que venha dar funcionalidade as operações?

Tenho a convicção que se o desenvolvimento da exploração do Pré-sal for tratado no campo das tecnicidades que lhe são de fato requeridas, teremos tudo para nos tornarmos grandes produtores, mas acima de tudo temos que nos transformar em grandes beneficiadores desse petróleo, pois caso contrario cairemos naquela máxima do cidadão que gastou uma fortuna para comprar um baita carro , mas que agora não tem dinheiro pra gasolina.

Anônimo disse...

Grande André,

Concordo com você que devemos rever a nossa Lei do Petróleo, mas todo cuidado é pouco ao expressar isso, pois nossas convicções devem estar extremamente bem embasadas.

Vamos aos pontos:

- Quanto a questão do risco de exploração. Realmente a Petrobras já realizou importantes explorações nas bacias brasileiras e diminuiu o risco de algumas regiões, mas ainda temos algumas áreas de fronteiras exploratórias (a maioria condenada pela Petrobras) que estão sendo revistas pelas empresas extrangeiras. Vide os fracassos exploratórios na Foz do Amazonas, no Mato Grosso e Bacia do Paraná. Hoje em dia a ANP não está conseguindo mais licitar nestas regiões devidos aos fracassos nas primeiras licitações.

- Na parte do que fica retido no Brasil, a parte de impostos e government take somam 34%. Algo bem próximo do que você disse. Mas, gostaria que considerasse também os custos de capital para implementação do campo (cerca de 20%) e os custos de operação (17%). Portanto, senti falta no seu texto da importâmcia de investirmos na indústria nacional para que esses 37% a mais fiquem no país. E ainda temos a Participação Especial que será cobrada nesses campos de Pré-sal.

- A falta de refinarias aqui no Brasil por parte das estrangeiras é óbvio. Apesar do petróleo ter altas cotações no mercado o governo brasileiro obriga a Petrobras a subsidiar o petróleo para evitar uma crise econômica no país. O preço do litro de gasolina poderia tranquilamente dobrar se pagássemos o preço de mercado no petróleo e no refino. Devemos pensar com calma o quanto vamos blindar a nossa economia e como atrair investimentos produtivos.

Andei estudando as diversas formas de exploração e acho que a nossa realmente é a mais conveniente. A Nigéria está passando por uma reforma profunda no marco regulatório dela e provavelmente deve adotar algo parecido com o nosso. Mas se você está preocupado com o petróleo sair do país, uma boa alternativa seria aumentar os royaltes e cobrar tudo em barris de petróleo, como é feito na Arábia Saudita, que cobra 80% da produção para ela.

Agora, ficar com 100% da produção e pagar as empresas pela cotação nacional vai afastar os investidores e pode quebrar as pequenas operadoras nacionais. Como já vi quase acontecer uma vez, ela teve que vender a parte dela do campo.

O assunto que você resolveu comentar é de uma complexidade imensa e exige uma visão pural. Mas é realmente pertinente que se abra espaços de discussão para chegarmos a um consenso. Você está de parabéns.

Abraços.

Unknown disse...

Valeu mesmo pelo comentário!
Foi realmente mt legal e esclarecedor
parece que as coisas estão encaminhando, é só questão de tempo!
Depois vamos sentar pra conversar!

um abraço!

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